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quinta-feira, 14 de março de 2013

Fantasias de chão de fábrica

Silmara (Rosanne Mulholland), protagonista de "Falsa Loura"

DILVO RODRIGUES*

Na última segunda-feira (11), a Sessão Brasil (dedicada aos filmes nacionais) exibiu na rede Globo o filme Falsa Loura. O longa conta a história de Silmara (Rosanne Mulholland), uma bela operária (bota bela nisso!), que se envolve amorosamente com os cantores Bruno (Cauã Reymond) e Luís Ronaldo (Maurício Mattar). A produção faz parte de um projeto de quatro roteiros que o diretor Carlos Reichenbach escreveu para homenagear as operárias paulistas. O filme foi lançado em 2007.

Juntamente com outras mulheres, Silmara trabalha na linha de produção de uma fábrica de peças. Com o salário, ela sustenta o pai, um ex-presidiário que mantém relação misteriosa com um conhecido advogado da cidade. Mesmo exercendo uma função aparentemente masculina e vestindo um macacão nada elegante, a loura é conhecida entre as amigas por sua beleza e sensualidade. Não apenas Silmara, mas todas as outras mulheres fazem questão, durante o filme, de mostrarem sua feminilidade. Assista ao trailer:



A personagem coadjuvante Briducha (Djin Sganzerla) é a única que foge ao padrão, sendo motivo de chacotas e piadas entre as companheiras. Porém, no decorrer do longa, a moça passa por uma verdadeira transformação visual, fazendo com Silmara uma dupla de parar os sinais, as calçadas e o metrô de qualquer Avenida Paulista. Com esse filme, Djin foi eleita a melhor atriz coadjuvante no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, em 2007. Curiosidade: a atriz é filha de Rogério Sganzerla, diretor do longa O bandido da Luz Vermelha, clássico do cinema brasileiro, lançado em 1968.

A protagonista Silmara (Rosanne Mulholland) é uma garota honesta, trabalhadora e, como disse, apaixonada por dois cantores. Um deles é Bruno (Cauã Reymond), líder de uma banda pop rock. A garota se envolve com o bonitão, mas percebe que é tratada como uma “vagabunda qualquer”. O outro galã é o cantor romântico Luís Ronaldo, vivido por Maurício Mattar. Diga-se de passagem, o ator e cantor não tem lá uma participação muito feliz na telona dessa vez. 

A meu ver, o mérito do filme está na retratação do universo feminino, em um contexto em que a mulher, apesar de ser dona da própria vida, é vista com um olhar bastante pejorativo por parte dos homens - apenas como objeto sexual. Outro ponto, é que a mulher é traída pela imagem do conquistador-romântico. O sonho de Silmara com Luís Ronaldo, por exemplo, chega a ser juvenil. Da mesma maneira, a curiosidade das colegas sobre os detalhes do relacionamento com Bruno pode dizer muito a respeito das fantasias do universo feminino. Não seria tarefa custosa encontrar exemplos dessa história na vida real.


*** 

Imagem: http://bit.ly/151aA9x  

*Dilvo Rodrigues, 28 anos, é um jornalista mineiro que estuda Cinema e vive em Curitiba. Quando uma boa comida e cachaça não ocupam seu paladar, lê sobre Filosofia, toca violão ou fica admirando as obras pós-impressionistas de Van Gogh. 


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